quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Às vezes eu até falo sobre amor.
Já escrevi poemas lindos e românticos,
Quem recebeu algum desses belos cânticos
Lembrará para sempre deste autor.

Uma doce poesia é como alfajor!
Um texto de amor em versos patéticos.
Azar desses que não têm dons poéticos,
Patetas incapazes de compor.

Piadas à parte (de fato, arrogância),
Eu não tenho toda essa rutilância,
Sou um monstro de completa escuridão.

E se há vezes em que meu papel brilha,
Se eu escrevo sobre alguma maravilha,
É porque eu sou um hábil charlatão.

V.


domingo, 26 de janeiro de 2025

Arimã

E no Fim haverá somente o Abismo.
Reino onde um mitológico lunático
Refugia-se de um mal psicossomático
Escondido nas trevas do lirismo.

Nos braços de Arimã, esse iconoclástico
Professor de um dantesco fatalismo,
Com o seu axiológico hedonismo
Aninha-se no abraço hipercatártico.

Com o choro abafado pelo riso
Da Criatura do Último Juízo
Segue o poeta descendo em espiral.

“Do Nada veio, ao Vazio voltará”,
O último verso que ele rimará
Entrelaçado ao Mal primordial.

V.


Vaguei cabisbaixo e com vergonha
Por um mundo culto e recatado.
Com medo de gafes e ofensas
Sentava-me e calava-me
Como se culpado fosse.
Retirando de mim o próprio eu
Confundi o Ser com o Propósito.
Afoguei-me na minha própria amargura
E perdi-me em mim mesmo.
Apenas seguia sonhando com o dia
Em que uma doce alegria
Salgaria minh'alma insossa.

V.

domingo, 12 de janeiro de 2025

Buscando meu heterônimo pelo Éter
Achei apenas seus restos de matéria.
E na sanguinolência da bactéria
Acabou-se a altivez do mau-caráter.

Virou húmus, com a graça de Deméter.
O sangue apodrecido em cada artéria
Aberta, exala sua última blasfêmia.
E, dos vermes, tornou-se Alma Mater.

É um ciclo de incertezas ontológicas;
É a Geena e suas forças sarcofágicas.
O fim do pensamento racional.

É nessa quintessência fria e hipotética
Que se devora, assim, de forma poética,
A arrogância de quem não era especial.

V.


domingo, 5 de janeiro de 2025

Esta escuridão no meu quarto assombra-me.
Já passa da meia-noite. Acendo a luz.
Apago a escuridão que me seduz,
Encaro o canto obscuro e um tanto infame.

E digo: "se há alguém aí, fale o seu nome!"
Silêncio, apenas, mas algo entreluz...
Prontamente, uno meus dedos em cruz!
Sinto que nos pulmões o ar já me some.

As pernas trepidam, falta-me o chão.
Sufoco com o horror e vejo, então:
É a lâmina da Morte que cintila.

Ouço o rangido da tesoura de Átropos.
E, com meus pensamentos misantropos,
Zombo da foice na ânsia de senti-la.

V.