quinta-feira, 9 de maio de 2024

Siga-me e comeremos a Sorte.
Roubaremos o néctar da escuridão,
Encheremos as veias de devassidão
E riremos da cara cínica da Morte.

Acredite, a Vida não devolve caução.
Não importa o tamanho do aporte,
Ou da reza para Cibele, a Consorte
Do Tempo, tu serás devorado. Em vão.

Então, nessa noite, viveremos, enfim.
Beberemos da água de beber, que Jobim
Trouxe da fonte do Poeta medroso.

Quando estivermos ébrios o suficiente,
Espero que a estrela da manhã nos atente.
Darei à minha vida um final esplendoroso.

V.

domingo, 5 de maio de 2024

Vejo faíscas quando deito e penso em ti.
Pode ser a mistura de álcool e Zolpidem,
Mas para esse artífice de rimas, convém
Transformar isso em versos, não resisti.

A ciência por trás das rimas, por ti, subverti,
Sendo essa cascata de faíscas que advém
Da intensidade mística do meu querer bem,
Apenas o jato de rimas faiscantes que verti.

Pensar nela é como um show de luzes.
É uma mistura de fármacos em altas doses.
Assim, a verdade está cada vez mais na cara.

Os efeitos colaterais dessas interações
São idênticos aos efeitos das paixões,
E no teto cintilante tu surges de forma clara.

V.


Até mesmo um poeta tem um limite
Do quanto ele aguenta sofrer
Por um amor que nunca poderá acontecer,
E que só serve para deixá-lo triste.

Mas o que mais ele poderia fazer,
Se toda hora que deita uma rima insiste
Em pulsar no seu peito triste,
Fazendo-o perder o sono e voltar a escrever?

Escrever para si mesmo, pois ela não lerá,
E provavelmente jamais saberá
Do quanto ele inadvertidamente a amou.

E como amou! Porém em sonhos e poesias,
Sofrendo das mais diversas discrasias,
Buscando a Quimera que jamais alcançou.

V.

sábado, 27 de abril de 2024

Nunca mais escreverei uma poesia.
Quebro a parede que me separa do papel,
E que o faz uma testemunha infiel,
De um amor que apenas eu escrevia.

Arcádia não passa de um bordel
Onde a vida além-papel é uma utopia.
E que o safado do meu eu-lírico já sabia:
Viver a vida idílica é uma morte cruel!

Meu último paradoxo em forma de poema.
O papel é o carrasco de uma rima blasfema,
E a arma dessa Inquisição é uma borracha.

Apagando o papel quebra-se a parede,
Desaba o meu eu-lírico morto de sede,
E nessa metáfora poesia nenhuma se acha.

V.