sábado, 30 de novembro de 2024

O acaso em suas facetas anabólicas,
Com suas tempestuosas mutações,
Formando interatômicos grilhões,
Criando e aniquilando sombras cósmicas.

Com rimas que contém forças entrópicas,
Compondo versos cheios de digressões,
Desordem tecerá suas ilusões
Nesta filosofia de bases caóticas.

E é no Caos, vibrando em descompasso,
Onde o vazio preenche todo o espaço,
Que pensar pesará menos que nada.

É neste inexorável paradoxo
Que a mente do filósofo ortodoxo
Fica anestesiada e derrotada.

V.



sábado, 23 de novembro de 2024

Procurando meus heterônimos pelo Éter
Deparei-me com restos de decomposta matéria.
E na sanguinolência de uma sarcófaga bactéria
Chegou ao fim a existência de um mau-caráter.

Fertilizando o solo com a benção de Deméter,
O que era vida de carne, pele, osso, cabelo, artéria,
Mas também feita de tristeza, dor, ódio e miséria,
Finda na sopa protéica que os vermes chamam "Alma Mater"

É o ciclo de todas as relações ontológicas.
Apocalipse dos micróbios, essas células metódicas,
Que dominam os restos daquele que se dizia racional.

Na quintessência hipotética da minha mente maldita
Jaz meu último alter ego de arrogância infinita,
Sendo comido pela Terra como qualquer outro animal.

V.


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

O canto escuro do quarto assombra-me.
Já passa da meia-noite, acendo a luz,
Mato a escuridão que meu espírito seduz.
Encaro o canto escuro, tenebroso e infame.

E digo: "se há alguém aí, fale o seu nome!"
Nenhuma resposta, mas algo entreluz...
De pronto, uno meus dedos em cruz!
Sinto que nos pulmões o ar já some.

As pernas trepidam, sinto faltar-me o chão.
Quando o pavor já quase tomava conta, então
Percebo que é a foice da Morte que ali cintila.

E com o meu destino selado por Átropos,
Todos os meus diferentes "eus" misantropos
Sorriem para a foice aguardando a hora de senti-la.

V.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Mais um soneto metalinguístico... sério?
E nem é um desses que se pode rotular vivaz.
Escrevam logo na minha testa: "Aqui jaz
Um poeta que nunca fez da escrita um mistério."

Esperarei a visita de Erato nesse cemitério
De rimas pobres, todas sobre o que um poeta faz.
Será que se eu vendesse minha alma para Satanás
Conseguiria enfim escrever um texto não estéril?

Será que me falta uma Musa de verdade,
Que me faria debruçar sobre o papel com vontade
Até que uma poesia livre de amarras surgisse?

De fato, estou triste com o poeta que me tornei,
Em nenhum reino posso dizer que sou amigo do Rei.
Meus versos carregam o amargo selo da breguice.

V.